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O Hugo Mendes responde ao meu texto de ontem no Jugular. A qualidade do seu post mereceu a seguinte resposta da minha parte, que deixei na sua caixa de comentários:
Caro Hugo Mendes, eu não tenho por hábito comentar posts, mas a qualidade deste seu texto e a seriedade da sua análise merecem uma resposta da minha parte. Não para contestar os seus números, mas para precisar a minha posição.
1. A referência aos 28 mil milhões, que encontrei tanto no Finantial Times como no Wall Street Journal, não se referem apenas a cortes na despesa, mas a cortes na despesa e a aumento de impostos: "To control a huge budget deficit, a legacy of its property and banking crashes, Ireland since 2008 has implemented €28 billion of tax increases and spending cuts. It is obliged under the EU and IMF program to continue cutting the deficit and add another €5.1 billion in cumulative measures for 2014 and 2015." Foi uma imprecisão minha, pela qual peço desculpa.
2. Em relação ao interessante gráfico a propósito da evolução do défice irlandês, proponho que o compare com um gráfico semelhante em relação à evolução do défice português. Embora o nosso sistema bancário não tenha entrado em colapso, também tivemos a nossa dose de BPNs, BPPs e BANIFs - retirando esses valores ao défice nacional, e ainda que queira atirar os 30,6% irlandeses borda fora, será o ajustamento dos défices português e irlandês assim tão distinto?
3. A motivação do meu texto, como penso que está bem explícito, foi recusar a tese de que o programa irlandês resultou porque fugiu à austeridade. Ele não fugiu à austeridade coisíssima nenhuma. O que fez foi aplicar um outro tipo de austeridade, mais inteligente, que passou muito mais pelo corte na despesa - matéria em que, de facto, diria que foi bastante mais firme - do que pelo aumento dos impostos.
4. Por favor, não entenda o meu texto como uma defesa do governo. Eu levo o tempo todo a ser confundido com um defensor do governo só porque passo boa parte do tempo a bater na oposição. Ora, entenda que bater no governo e bater na oposição não são actividades incompatíveis. Bem pelo contrário, diria mesmo que neste momento são as duas únicas actividades possíveis em Portugal. O governo está a desaproveitar uma oportunidade histórica para reformar o país; e o PS está a aproveitar a oportunidade histórica do costume, que consiste em fingir de morto e insinuar que basta estalar os dedos para começarmos a crescer à irlandesa.
5. Por último, deixe-me saudar novamente a forma elevada como respondeu ao meu texto. Se as pessoas em Portugal discutissem com a seriedade que o Hugo utilizou aqui, os embates ideológicos seriam altamente produtivos, em vez de se esgotarem na gritaria do costume. Agradeço-lhe sinceramente por isso.´